Acusado de jogar advogada do 8º andar de prédio em BH vai a júri popular
20/10/2025
(Foto: Reprodução) Carolina Magalhães e Raul Lages
Reprodução/Redes sociais; reprodução/OAB-MG
Raul Rodrigues Costa Lages, acusado de matar a advogada Carolina França Magalhães ao jogá-la do oitavo andar de um prédio em Belo Horizonte, vai a júri popular. Ele será julgado por feminicídio.
A vítima foi morta em 8 de junho de 2022, aos 40 anos. O caso foi tratado como suicídio até 2024, quando, após uma reviravolta, o suspeito virou réu por homicídio triplamente qualificado (leia mais abaixo).
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Em decisão nesta segunda-feira (20), a juíza Ana Carolina Rauen Lopes de Souza considerou as provas do processo suficientes para admitir a hipótese de um crime cometido por motivo torpe, contra mulher e mediante recurso que dificultou a defesa de Carolina. Na mesma sentença, ela concedeu a Raul Lages o direito de recorrer em liberdade.
Portanto, havendo suporte probatório mínimo para a admissão das referidas qualificadoras, deve a integralidade da acusação ser submetida ao crivo do Tribunal Popular do Júri, determinou a magistrada.
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O julgamento ainda não tem data marcada. O g1 procurou os advogados do acusado para um posicionamento, mas não recebeu resposta até a última atualização desta reportagem.
Em nota, a defesa da família de Carolina França Magalhães afirmou que a decisão da Justiça indica inúmeras evidências do covarde homicídio qualificado, inclusive por feminicídio.
A família de Carolina segue confiante na Justiça e na condenação de Raul Rodrigues Costa Lages, certa de que eventuais recursos da defesa não permitirão tardar a condenação definitiva, disse o advogado Maurício Campos Júnior.
Relembre o caso
Raul Rodrigues Costa Lages, acusado pela morte de Carolina da Cunha Pereira França Magalhães, em depoimento à Justiça.
Reprodução
A advogada Carolina França Magalhães morreu na noite de 8 de junho 2022, aos 40 anos, quando caiu do oitavo andar de um prédio no bairro São Bento, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Ela deixou dois filhos.
À época, a morte dela foi tratada como suicídio. No entanto, após contradições apontadas pela família e novas diligências, em novembro de 2024, a Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público de Minas Gerais e tornou o namorado de Carolina, o advogado Raul Rodrigues Costa Lages, réu por feminicídio no processo.
Para familiares e amigos, a versão de que a mulher se matou nunca fez sentido. E o irmão da vítima, o também advogado Demian Magalhães, começou a recolher provas logo após o crime.
Na noite do crime, a polícia não foi até a portaria onde fica a tela com o gravador das câmeras para pedir acesso. No dia seguinte ao falecimento dela, eu fui à portaria do prédio e pedi esse acesso. Essa foi a primeira vez que a gente viu a sequência dos fatos e viu que a versão que ele tinha apresentado não batia com a realidade, contou.
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Segundo as imagens obtidas pela reportagem da TV Globo, no dia 8 de junho de 2022, o desenrolar dos fatos aconteceu da seguinte maneira:
Raul e Carol entram no elevador às 19h31.
Uma hora depois, Raul desce de bermuda e camiseta para pegar comida. Volta em cinco minutos.
Às 21h11, Lucas e Vitor, filhos de Carolina, deixam o apartamento da mãe para assistir a um jogo de futebol em um bar perto de casa.
Às 23h10 é possível ver que o sensor da câmera da área de lazer do prédio acende.
Um minuto depois, o porteiro vai até o local e se aflige ao ver o corpo no chão.
Às 23h14, quando Carolina já estava morta, o elevador estava parado na portaria. E é acionado para o 8º andar.
Raul Lages entra com as roupas trocadas, de terno, com uma mochila e duas sacolas, aparentemente pesadas.
Ele vai em direção à portaria e, ao tentar sair do prédio, encontra o porteiro desorientado, que o leva até o local onde o corpo está caído.
Cerca de um minuto depois, Raul Lages sai falando ao celular, coloca as sacolas no porta-malas do carro que estava estacionado na rua e arranca.
Uma ambulância chega. Nesse momento, Raul estaciona o carro e resolve voltar.
Às 23h20, os dois filhos de Carolina entram no prédio e se desesperam ao saber da morte da mãe.
Para a Polícia Civil, Raul teve tempo suficiente para tentar esconder o cenário de violência. Ele trocou a roupa de cama, passou pano para tirar as manchas de sangue e colocou tudo para lavar. O advogado também recolheu todas as roupas dele que estavam no apartamento e ainda pegou o pedaço cortado da tela de proteção, jogou na lixeira e guardou a tesoura na gaveta da cozinha.
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Contradições em depoimento
Em agosto deste ano, Raul Rodrigues Costa Lages foi ouvido pela Justiça. Ele entrou em contradição em vários momentos do depoimento.
Além disso, o réu se recusou a responder os questionamentos formulados pela acusação — o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e o advogado que representa a família da vítima. Ele se limitou às perguntas feitas por sua defesa e pela juíza.
Durante a fase de investigações e elaboração do inquérito, Raul disse à Polícia Civil que, no momento em que Carolina caiu da janela, ele já estaria no interior do elevador do prédio, de onde teria escutado um forte barulho enquanto descia — sugerindo que fosse o impacto do corpo da vítima ao solo.
Em juízo, corrigiu-se para dizer que o barulho ouvido podia estar relacionado a fogos e torcida durante um jogo de futebol que ocorria naquela noite.
Tentando corrigir outras inconsistências do interrogatório na polícia, Raul alegou ter ficado algum tempo na porta do apartamento arrumando sacolas que levava consigo antes de acionar o elevador.
As imagens de segurança do circuito interno de segurança demonstraram que ele acionou o elevador pelo menos quatro minutos após a queda.
Raul também mudou a versão sobre ter mantido relações sexuais com a vítima no dia da ocorrência. Laudos confirmaram a presença de esperma no corpo de Carolina.
À polícia, ele havia negado o contato. Mas à Justiça, respondeu que sim, no período da manhã daquele dia. Vale destacar que o réu se recusou a fornecer material genético para ajudar na elucidação do caso.
Questionado sobre o consumo de entorpecentes, ele respondeu que não utilizava substâncias ilícitas. Entretanto, durante uma ação de busca e apreensão no imóvel onde residia, drogas foram encontradas no quarto dele. Raul, então, assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) — documento jurídico que registra infrações de menor potencial ofensivo.
Ao g1, a defesa de Raul Lages negou haver contradições no depoimento, mas esclarecimentos mais detalhados.
Raul Rodrigues Costa Lages
Reprodução/OAB-MG
Carolina da Cunha Pereira França Magalhães morreu aos 40 anos
Reprodução/redes sociais
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